Sábado, 6 de outubro de 2007, três horas da tarde.
Em Santiago, na estação Santa Lucía do metrô, as telas de televisão repassavam as manchetes da semana, uma informava : “Prefeito de Las Condes é acusado de favorecer a indústria imobiliária”.
Pensei : "Essa não ! Até aqui, num país considerado um dos raros exemplos de economia equilibrada na América Latina, com altos índices de crescimento e pouca corrupção, é perceptível a ação antiética da Industria da Construção Civil ”.
Fatos assim são considerados corriqueiros em cidades como Florianópolis onde é de conhecimento público a corrupção de setores da administração municipal e a desestruturação da política de ocupação do solo, uma conseqüência da ação de construtores, políticos e burocratas corruptos.
O mau hábito de conviver constantemente com manchetes de jornais e operações policiais faz com que nos tornemos céticos, desenvolve o mau hábito de acreditar, sem conferir a veracidade das informações, quando os meios de comunicação acusam um político de corrupção.
O nosso destino naquela tarde era Las Condes, um bairro que na verdade é um município independente da Grande Santiago, integrado com a capital de tal forma que configura uma única e extensa área urbana com cerca de seis milhões de habitantes.
Aquela manchete nos levou a pensar que encontraríamos o tipo de caos urbano característico das grandes e médias cidades brasileiras. Que nada.
O metrô ainda não chega a Las Condes. Na última estação da linha 1 é preciso apanhar um ônibus ou táxi e seguir mais alguns quilômetros.
Ao chegar lá imediatamente verificamos que aquela informação transmitida na estação do metrô deveria, no mínimo, ser melhor investigada.
Ao contrario de pessoas que não atuam na construção civil, aquele bairro, visto pelos olhos de um casal de arquitetos, desmentia as afirmações da mídia. Ruas e avenidas largas em ótimo estado de conservação, intensamente arborizadas, com calçadas amplas são um exemplo de boa urbanização.
Os prédios, cercados por jardins possuem grandes afastamentos, assim as casas, apartamentos, escritórios e áreas comerciais são bem insoladas e ventiladas; em suma, se houve tráfico de influência naquele lugar ele não deixou vestígio.
Em Florianópolis ocorre o contrario. A corrupção, o tráfico de influência e a manipulação política do Plano Diretor são evidentes na cidade.
Calçadas estreitas e irregulares, ruas e avenidas mal conservadas, pouca arborização, prédios com afastamentos mínimos e densidade excessiva de construção atestam os desmandos atribuídos aos administradores públicos.
Quando são trazidas ao conhecimento da população irregularidades envolvendo desvios de verbas ou apropriação indébita do patrimônio público muitas vezes é difícil provar os fatos devido ao mascaramento das provas, o mesmo não ocorre com a parte física das cidades.
As características que evidenciam a corrupção dos agentes que deveriam disciplinar o uso do solo é evidente na paisagem urbana.
Prédios e casas com andares em excesso, falta de vagas de garagem, taxas de ocupação e índice de aproveitamento acima do permitido, contam a historia de um processo de corrompimento.
A paisagem de Las Condes induz a absolver o prefeito local das acusações que lhe foram feitas, a de Florianópolis aponta um dedo acusador para os prefeitos, tanto o atual quanto os anteriores.
A cidade conta a história de décadas de corrupção e tráfico de influência.
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